O Cena vem aí: veja destaques do maior festival de teatro do Centro-Oeste
- Hugo Gomes
- 31 de jul. de 2017
- 4 min de leitura

Tendo se firmado como um importante espaço de criação e reflexo de nossa contemporaneidade nos palcos, o Cena traz 22 espetáculos para a capital. Entre eles, destaca-se a questão da liberdade, seja ela racial, de gênero ou política. O festival ocupa os principais teatros da cidade e se espalha entre o Plano Piloto e diferentes regiões do Distrito Federal, como Ceilândia, Taguatinga, Gama, Samambaia e Planaltina.
A variedade estética dos grupos é um dos pontos fortes do evento, que cria expectativa entre os espectadores brasilienses por sua tradição em levar diversidade e inovação aos palcos. O espaço torna-se um importante ponto de diálogo entre artistas, produtores e o público em toda a cidade.
Alaôr Rosa, curador do festival, lembra que um dos fatores que suscitaram a criação do festival era a vontade de impulsionar a classe artística brasiliense a se desenvolver em relação ao que se produzia de melhor no Brasil e no mundo. “Além da exibição dos espetáculos, o festival tinha como objetivo, por meio das oficinas, palestras e debates, reciclar os profissionais da área e os estudantes que a cada ano entravam no mercado profissional”, declara. Outro ponto de grande importância era a possibilidade de proporcionar à população do DF a experiência de assistir a espetáculos prestigiados por todo o mundo e trabalhos que dificilmente chegariam à cidade sem o festival.
Transgressão O curador destaca que, atualmente, o Cena Contemporânea é um dos poucos festivais do país que mantém na grade uma diversidade de linguagens que transgridem o teatro, como cinema, performance, música, literatura e artes plásticas, celebrando a subversão cultural e as tendências mais arrojadas das artes. Para ele, diante do retrocesso do mundo e do inacreditável processo que passamos pelo Brasil, a arte é a única solução possível a curto prazo. “O teatro se torna alimento de argumentação e reflexão aos que se abrem a uma busca por uma sociedade mais inteligente e justa”.
Entre as novidades da programação está o retorno de Maikon K., artista detido pela Polícia Militar durante apresentações no Palco Giratório, em julho deste ano. O dançarino apresentará novamente a obra DNA de DAN e pretende chegar até o fim da performance. Além disso, ele participa de um projeto apelidado como Fotona, que reunirá artistas e convidados em uma foto-protesto de nu artístico para a edição do festival em 2017. O protesto fotográfico é organizado por Diego Ponce de Leon, que coordena as atividades formativas do Cena. O manifesto deve acontecer em 2 de setembro, como resultado de uma oficina voltada para o debate sobre a nudez na arte.
A ideia é que todos os participantes, maiores de 18 anos, se reúnam para se manifestar política, social e culturalmente. A ação conta com a direção do fotógrafo brasiliense Kazuo Okubo. Para ele, o brasileiro ainda é conservador em certos aspectos e não admite a nudez como algo natural. “Muita gente acha que é errado, existe uma demonialização ao redor do nu e aí está o problema. O nu é uma forma de manifesto e, nesse caso, utilizaremos como ferramenta de protesto, principalmente em relação aos problemas culturais em nosso país”, afirma. O objetivo é fazer um grande flashmob com a população e a expectativa é criar a maior foto de nu artístico da região.
Brasília Entre as produções locais de destaque está Teto e Paz, continuação do projeto Meninos da Guerra, de Carlos Laredo. Criada com meninos que estavam anteriormente em situação de rua, o espetáculo mostra o forte potencial de transformação que o teatro proporciona. Para o diretor, o espetáculo é uma demonstração de que o fazer artístico, inerente ao ser humano, pode nos salvar do cotidiano. A ideia é mostrar que meninos e meninas com experiências de vidas trágicas podem converter em cenas suas histórias, revelando dimensões de existência heróica. “Estar em evidência e no protagonismo não é algo que lhes foi ofertado até então. Por isso, nos comovemos e nos afetamos diante de tanto talento e criatividade. A peça é um exercício da democracia”, afirma.
Com coordenação de Michele Milani, direção e curadoria de Alaôr Rosa, a programação se completa com grandes nomes da cena teatral brasiliense e nacional e montagens de encenadores renomados, como Aderbal Freire-Filho, Grace Passô e Georgette Fadel. Uma importante parceria para a formação de público desde a infância se concretiza na edição atual, com a presença do Festival internacional de teatro para a primeira infância, o Primeiro Olhar, sempre aos sábados e domingos. Entre os objetivos principais está a possibilidade de dialogar com o público e criar um espaço importante de reflexão e debate.
Além de movimentar a cena teatral local, o Cena se firma como um importante polo de novas produções, mantendo o fluxo de diálogo constante entre artistas e plateias. Caracterizando-se como uma oportunidade de intercâmbio entre artistas, o evento mostra a capacidade de diálogo artístico entre produções de diferentes regiões do país e promete atrair um público amplo e diverso em idade, pensamento, postura e convicção. Diante da possibilidade de interação presencial, é importante levantar questões importantes para o desenvolvimento humano e social dos indivíduos, aproveitando a relação direta com o público de maneira eficaz. Essa relação permite que cada espectador possa refletir e se posicionar de maneira adequada à sua própria contemporaneidade.
SERVIÇO Festival Cena Contemporânea De 22 de agosto a 3 de setembro Os ingressos custam R$20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada) Confira a programação completa: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2017/07/26/interna_diversao_arte,612431/destaques-cena-contemporanea-2017.shtml
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